Qualquer que seja o futuro do cristianismo, e por várias razões,
vai ser necessário abrir espaço para a penitência. Não a penitência da
auto-mutilação, mas a do espírito. “Arrepender-se” tornou-se palavra que não
significa nem “reformar a conduta” (mais perto do sentido
grego original) nem o mais fraquinho e popular “sentir-se mal” – porque, os
novos profetas esclarecerão rapidamente, cristão nenhum pode sentir-se mal. Se
você está contrito, eles vão tentar fazer você sorrir. “O importante é ser
feliz”, esclareceu um cristão experimentado nessas questões.
São Brabo, o monge-lutador medieval que dizia que “o importante
é fazer a coisa certa”, discordaria indignadamente.
Na liturgia cristã contemporânea só há espaço, naturalmente,
para o louvor. Há cantos e danças, mas se você quiser encontrar espaço para a
contrição vai ter de fazê-lo sozinho. Pensando bem, talvez tenha sido sempre
assim. Já Jesus salientou que no seu tempo a voz alta que se ouvia no Templo
era a do fariseu celebrando de coração “porque não sou como os demais homens,
roubadores, injustos e adúlteros”. A penitente contrição do corrupto cobrador
de impostos, batendo no peito de longe e sem levantar os olhos, se alguém ouvia
era Deus.
Por Paulo Brabo na Bacia das Almas
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